Em plena ocupadíssima tournée (como podem conferir nesta
entrevista) pelos Estados Unidos, o lendário Nicky Garrat descobriu algum tempo
para nos falar deste seu projecto krautrock
– Hedersleben – e do seu segundo trabalho Die
Neuen Welten. Isto ainda antes de se voltar a concentrar no seu trabalho
com o ex-Hawkwind Nik Turner.
Olá Nicky! Obrigado por esta
entrevista. Quem são os Hedersleben? Podes apresentar o coletivo aos rockeiros portugueses?
Claro! Bryce Shelton, de Oakland,
toca baixo. Ele é a espinha dorsal dos Hawkwind de Nik Turner bem como dos Brainticket e, é claro, dos Hedersleben. Kephera Moon é uma teclista
com formação clássica. É de Carmel Valley, Califórnia.
Faz as partes altas nos registos vocais
e é um grande recurso para o gosto e intuição. O baterista Jason Willer
é um outro membro de Oakland. Tem um ouvido fino para o
autêntico e ensina percussão no pouco
tempo livre fora dos compromissos
com os Hedersleben. Ariana Wagaman é a nossa nova voz
poderosa mas também acrescenta a dimensão fresca do violino elétrico.
Ela é da Pensilvânia... Ou é Transilvânia? De
qualquer forma, acrescenta aquele input
final pelo que agora sinto que a banda está a disparar
todos os cilindros. Eu sou Nicky Garratt, o guitarrista, de Cosby em Leicestershire,
Inglaterra, (agora famosa pela aldeia vizinha Countesthorpe onde os membros da mega-estrela do rock Kasabian estudaram).
Die
Neuen Welten é o vosso segundo álbum. De que forma se aproxima ou
afasta da vossa estreia?
Acho que este segundo álbum é um pouco menos denso.
Acho que isso é normal, porque um primeiro álbum é
compactado e muitas vezes apresenta muitas ideias.
Depois há uma continuidade com os três
primeiros álbuns como tínhamos concebido desde o início
da banda.
Podes, então, descrever o que os
ouvintes podem descobrir em Die Neuen
Welten?
Enquanto criança na Inglaterra rural, eu era um apaixonado pela astronomia planetária. Quando folheava a Enciclopédia encontrei uma foto de uma cruz antiga do castelo Quedlinburg. De
alguma forma, essa região nas
montanhas Harz da Alemanha
se fundiram na minha mente com as luas e asteróides do
nosso Sistema Solar. Essa foi a
essência da Upgoer (Rocketship). Tem algumas
nuances emocionais semelhantes ao livro Log que veio com o LP original dos Hawkwind, In Search Of Space. Em Die Neuen Welten (Os Novos
Mundos) os laços com a Terra são
quebrados e estamos no espaço.
O Lado A - Zu Den
Neuen Welten (Aos Novos Mundos) - é uma composição da banda baseada num tema de Kephera. No segundo lado,
as faixas representam diferentes aspetos
ou impressões dos novos mundos.
XO5B é um dos telescópios espaciais de Keplar enquanto Nomad World é um Dreamstate (uma peça onde um instrumento,
normalmente guitarra, não muda através da
música, criando uma sensação de
sonho). Isso retrata um mundo elevado à deriva pelo espaço sem sol.
(On The Ground) Safe & Sound comemora a aterragem de Titã em Huygen.
Tiny Flowers/Little Moon começa com uma fusão de duas músicas, uma de Kati Knox e outra, um esboço
meu inacabado. Juntaram-se pela gravidade.
A segunda metade é uma pequena lua da mão
de Kephera.
Como apareces neste projecto?
Na foto maior, sou o diretor musical de Nik Turner
(Hawkwind) e, inicialmente, o
colaborador principal com Brainticket
de Joel Vandroogenbroeck (o resto da banda rapidamente
se tornou crucial no projecto).
Com Hedersleben sou,
talvez, um porteiro e arranjador.
Escrevo muito material agora, mas
não exclusivamente. Kephera Moon escreve algumas secções muito interessantes e com a adição da nova vocalista/violinista Ariana Wageman, junto com Bryce e Jason,
seremos capazes de produzir composições
como banda.
Porquê tantas referência na língua
alemã quando a banda é americana e tu inglês?
Tanto Jason como eu vivemos na
Alemanha e somos muito influenciados pela liberdade da inicial
cena Krautrock.
Sob o guarda-chuva do rock progressivo e do Krautrock,
junto com Canterbury
e Zeuhl,
há a partilha do mesmo DNA e de mesmo objectivos. Além disso tenho uma quinta em Hedersleben
(daí o nome), perto de Quedlinburg
onde tocamos música por prazer. Chamamos
isso de KMZ (Kosmiche Musik
Zentrum). Por coincidência Ariana, a nossa nova vocalista/violinista é
meia alemã, portanto, parece-me natural
que algumas ideias reflictam essa
conexão.
Precisamente agora andam numa tour Americana. Como estão a decorrer as
coisas?
Para além de cada oportunidade de uma
foto casual e conversas atrás do palco com várias celebridades, são horas de viagem e
logística. Levar uma banda de rock progressivo em tournée é exigente. Só para montar os teclados
é um projeto de construção, todas
as noites. Isso ocupa a parte do leão do nosso tempo, mas a recompensa vale a pena. Ontem à noite,
em Baltimore, por exemplo, o público foi muito receptivo.
Acho que muitas pessoas estão agradecidas por poder ver uma banda a tocar prog clássico. No final de cada show, toda a aparelhagem deve ser carregada de forma muito precisa ou não caberá. Cada pequeno
espaço é utilizado e mais equipamentos são carregados na parte dos passageiros do
autocarro. A carga era maior no início
da tournée, mas à medida que progredimos em torno da América
do Norte, Meg (a
nossa senhora do merchandise) vende T-shirts, vinis e CD’s
e cria algum espaço... Bem, pelo menos até a próxima encomenda
chegada da editora. O nosso engenheiro de iluminação
Andy possui equipamentos delicados que manipula ao
vivo. Os projetores e telas naturalmente
devem ser descompactados e embalados junto com as treliças de iluminação todas
as noites.
Tens mais algum projecto em
desenvolvimento?
Sim, tenho um outro projeto em que
toco Jazz/Pop em restaurantes e até
mesmo para a feira gigante de Frankfurt Messe Trade, mas é principalmente
por diversão e prática de partituras. Fora
isso, os meus colegas de Hedersleben e eu vamos estar a trabalhar em novas gravações com Nik Turner assim que a atual
tournée acabe. Também iremos tocar no
World Vegetarian Day em Golden Gate Park logo após a tournée.
Obrigado Nicky! Queres acrescentar
mais alguma coisa?
Sim, estamos a falar
com agentes na Europa na esperança de podermos levar esta tournée aí no próximo ano. A
logística é difícil com tanto
equipamento necessário e tantos
voos para reservar. Ainda assim,
podemos ficar no KMZ em Hedersleben, fato que alguns dos moradores acharão bastante
divertido.
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